Serra dos Órgãos: um desafio

Já fui várias vezes de carro de BH para o Rio de Janeiro ou Região dos Lagos. E sempre que passava pela serra na região de Petrópolis e Teresópolis, ficava encantada e imaginando como seria trilhar por ali. A princípio, nem sabia que existia o Parque Nacional da Serra dos Órgãos; fiquei sabendo há uns 4 anos, quando um conhecido fez a travessia e me contou. Desde então, esse passeio ficou na minha mente como um dos que eu queria fazer.

Em meados de agosto, um amigo me chamou para encarar o trajeto. Não havia mais vagas para fazer em três dias (o parque tem um limite de pessoas por dia), então resolvemos  fazer em dois, acampando na Pedra do Sino. Para quem não sabe, fazer em dois dias requer um preparo maior, já que o percurso é longo e difícil. Geralmente, as pessoas fazem em três dias, acampando no Açu no primeiro dia e na Pedra do Sino no segundo dia (aqui tem mais informações). Nós iríamos direto pra Pedra do Sino. Agendamos para os dias 5 e 6 de setembro, aproveitando que seria feriado na segunda para voltar a BH.

Um parênteses: é preciso agendar pelo site com antecedência, pois o parque está sempre movimentando e tem limite de lotação. A compra deve ser feita pela internet, pelo site do PARNASO.

 

O início

Convidei duas amigas para ir conosco. Então nos encontramos na sexta à tarde e seguimos viagem até Congonhas para encontrar o Gabriel – que iria trabalhar até o final do dia. De lá, seguimos para Petrópolis. Uma viagem alegre e divertida, por sinal.

Chegamos tarde em Petrópolis, por volta das 22hs, ou mais. Fomos direto pro Hostel 148, onde havíamos feito a reserva para pernoitar e sair no dia seguinte para a trilha. O hostel é simples, mas bem legal. Os quartos e banheiros são limpos, o café da manhã é bom e a galera é bacana demais (com exceção de um dos recepcionistas, que apelidamos de Ed Mota). Para quem quiser, eles oferecem o serviço de transfer até a postaria do Parque (vale a pena quando são 4 pessoas ou mais). Custa R$ 250,00, incluso ida e volta (eles buscam a gente na portaria do Parque em Terê no final da travessia).

 

Primeiro trecho: Petrópolis – Castelo do Açu

Acordamos no sábado e o tempo estava chuvoso e com neblina. Sal e Lud, nossas companheiras de viagem, desistiram de ir; eu e Gabriel embarcamos na aventura. Tomamos um café rápido, arrumamos a mochila e seguimos para o parque às 7hs da manhã. Guerreiros!

Chegamos ao Parque às 8hs. Depois das “burocracias” iniciais, iniciamos a trilha às 8:15hs.

A caminhada começa difícil: uma subida interminável e íngreme “serra acima”. Parece interminável. Apesar de não ser uma trilha tecnicamente difícil (não há trechos perigosos ou de escalaminhada), é desgastante demais e exige preparo físico. Pra gente, a neblina e o frio pioraram a situação. Não conseguíamos enxergar nada e nossas roupas ficaram molhadas com a umidade.

 

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Apesar dos perrengues, a caminhada foi sensacional. Muitas risadas, brincadeiras, troca de ideias e algumas fotos. Gabriel é um ótimo parceiro de trilha. As flores também ajudaram a deixar tudo mais lindo!

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Foram quase 4 horas de subida até o Castelo do Açu, primeiro ponto de camping daqueles que fazem o passeio em três dias. Chegamos às 11:55hs. O frio deixava a ponta dos dedos duras e dormentes. Mas valeu a caminhada: o lugar é lindo. Para quem gosta de rochas, é de tirar o fôlego.

 

Castelo do Açu Castelo do Açu

 

Nesse ponto, tem um abrigo que está interditado, mas os fiscais do parque ficam lá. A salvação: eles nos serviram café quentinho para esquentar o corpo e seguir trilhando. Fez toda a diferença! Mas… o pior ainda estava por vir!

 

Toten de pedra cimentado para marcar o caminho
Toten de pedra cimentado para marcar o caminho

 

Segundo trecho: Açu até a Pedra do Sino.

Sem dúvidas, esse é a a parte mais punk da travessia. Além da longa distância, é um trecho de subidas e descidas muito íngremes e escalaminhada. A umidade, a neblina e o frio tornaram tudo mais difícil. Primeiro porque não conseguíamos enxergar a trilha em alguns momentos (visibilidade quase zero!); segundo, porque estava tudo muito escorregadio;  e terceiro porque o frio estava castigando. Encarar uma trilha dessas e nessas condições não é fácil! Mas fomos em frente.

 

trilha trilha

 

Em alguns trechos, era necessário descer por rochas escorregadias em terrenos muito íngremes. Assim, o jeito era sentar e descer de bunda, às vezes jogando a mochila morro abaixo para não correr o risco de rolar com ela. Essas pedras renderam pra mim alguns tombos engraçados. A lição? “Compre uma bota de trekking, bicho do mato!”. Sim, porque sempre uso tênis velhos para ir pro mato; dessa vez, estava com um horrível, que não dá aderência nenhuma. E, o pior: ficou molhado durante todo o percurso, deixando meus dedos congelados.

 

Uma das descidas escorregadias!
Uma das descidas escorregadias!

 

Queríamos enfrentar o pior pedaço – a subida do cavalinho – ainda de dia. Mas não sabíamos bem quanto tempo iríamos gastar até lá, dadas as circunstâncias e adversidades. Ainda bem que nós dois somos experientes, porque em alguns momentos isso foi fundamental. O GPS ajuda, mas senso de direção é essencial. E também a perspicácia de saber “ler” a trilha. Formamos uma boa dupla e assim, conseguimos reencontrar o caminho nos momentos de desorientação e identificar os melhores lugares para subir e descer as pirambeiras. No final das contas, ríamos de nós mesmos!

 

Flor da Montanha

 

Quando chegamos no Cavalinho, fiquei meio chocada. É um trecho realmente íngreme, com um penhasco do lado. E é preciso escalar as rochas, o que talvez não fosse um problema se tudo estivesse seco. Ainda bem que levamos corda, porque assim conseguimos puxar as mochilas com ela e subir sem peso nas costas. E ainda bem que ainda estava de dia, porque não sei como faríamos se estivesse escuro. Passamos por lá por volta de 17:30hs. E, ao final, quando consegui subir, eu estava assim:

 

Cavalinho

 

Aqui tem mais fotos do cavalinho. É a parte mais tensa de toda a travessia. Não só esse pedaço em específico, mas esse trecho inteiro: subidas em rochas escorregadias com grandes chances de cair. Como nossas pernas já estavam cansadas do trajeto todo, dificultou ainda mais. Mas tudo bem, desafio superado com sucesso.

Depois, pegamos um pouco de trilha noturna e chegamos ao abrigo da Pedra do Sino às 18:40hs, com frio e molhados. Não há registro desse momento, porque só queríamos saber de banho quente e comida. E assim fizemos, depois de armar a barraca e tomar um chá fumegante. A chuva atrapalhou um pouco, mas então os fiscais do Parque que ficam no abrigo liberaram para ficarmos dentro do abrigo, para cozinhar e nos proteger do frio.

Tinha uma galera massa lá. Interagimos, conversamos. A sensação era de ter valido a pena, apesar dos pesares. Depois de prontos, fomos pra barraca descansar. O dia seguinte ainda nos aguardava!

 

Terceiro trecho: Pedra do Sino – Teresópolis

A ideia era acordar cedo, subir na Pedra do Sino pra ver o visual e depois encarar as a descida até Teresópolis. Mas o tempo amanheceu chuvoso e com muita neblina, então o jeito foi arrumar as coisas e partir direto para Terê. Tomamos café com calma e nos preparamos para descer. Tudo corria bem, apesar do mal humor matinal do Gabriel.

Abrigo Pedra do Sino

 

Seguimos pela trilha, que apelidei de “passeio no bosque”. É uma descida constante, não muito inclinada, em uma trilha larga – que parece mesmo uma estradinha. Foi ótimo ter esse descanso depois de tanto perrengue. Aproveitamos para conversar, rir, contar casos…. e as 4 horas passaram voando! No caminho, cruzamos com grupos de corrida de aventura que treinam nesse lugar. Muito legal. Quando avistamos a sede do parque, assustamos: “já?”.

Na portaria, pegamos nosso transfer e seguimos para Petrópolis. Fim de mais uma aventura memorável!

Teresópolis

A travessia Petrópolis – Teresópolis é incrível e desafiadora. Ficou a vontade de voltar lá com tempo bom para curtir as paisagens e a vista. Em breve!

 

 

 

 

 

 

 

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